01. Iluminado
Vander Lee
Vi o meu sentido confundido, iluminado
Vi o sol enluarar, quando viu você
Vi a tarde inteira, a Sexta-feira, o feriado
Esperando o amor chegar e trazer você
Você chegou querendo
Tudo que o tempo não te deu
E que levou de você;
Sem saber que você já sou eu
Agora não entendo
O meu relógio o amor tirou
Mas sei que o meu coração
Tá batendo mais forte
Porque você chegou
02. Meu Jardim
Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minha fonte, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando de mim
03. Pensei que Fosse o Céu
Vander Lee
Estou aqui mas esqueci
Minha alma num hotel
Meu coração na caneta
Meus desejos num papel
Eu vinha sem retrovisor
Um rosto estranho me chamou
E a minha pele não me coube mais
A sorte veio e me encontrou
Na corda bamba do amor
Meus dias nunca mais serão iguais
Estava ali, me confundi
Pensei que fosse o céu
O azul do mar me chamou
E eu pulei de roupa e de chapéu
A onda veio e me levou
Desse lugar e agora eu sou
Uma ilusão, a solidão é meu troféu
Aquela foto amarelou
O riso no meu camarim
Felicidade bate á porta e ainda ri de mim
04.Chilique
Vander Lee
Olha só como essa preta ta ficando chique
Olha só como ela vive só dando chilique
Se não vai no samba
Eu ali meio afim de um elã com ela
Meia lua mingua cheia de inveja dela
Muito mais bela que a tela de Tupinambá
Já lavou, já passou
Pôs a mesa do jantar
Já limpou, já agüentou
Desaforo da patroa
Hoje é sábado e ela
só quer saber de sambar
amanhã é domingo
ela pode ficar numa boa
Já faz uma semana
Que a preta no samba não vem
Ela samba tão bem
Ela é dona do pedaço
Hoje é sábado, o samba
Ta quente e promete esquentar
Amanhã é domingo ela pode
Sambar (sonhar) nos meus braços.
05. Passional
Vander Lee
O samba rolava solto pelas tantas da manhã,
Eu posava de passista, e ela minha cortesã.
Eis que chega o sambista de uma escola campeã,
Ela me deixou na pista pra bancar a anfitriã.
Rolavam Noel, Cartola, Paulinho da Viola e coisa e tal,
Mas ela pôs um balde de água fria no meu carnaval.
Girando feito donzela, nos passos do meu rival,
Eu que não sou de balela, fiz um samba passional.
Olha a folga dessa nega; o que ela faz comigo
Pra sorte dela sou de paz, não crio caso, não brigo
Senão eu rodava a baiana
Punha ponto final
E um de nós dois ia parar no hospital
Ô, nega
Isso não se faz, ô Nega,
Também sou sambista de valor.
Mas agora, pra mim chega
Juro por Deus, Nosso Senhor.
Na Avenida da Paixão
Meu peito não desfila mais,
Tu serás porta-bandeira
Que eu vou pra Minas Gerais.
06. Do Brasil
Vander Lee
Falar do Brasil sem ouvir o sertão
É como estar cego em pleno clarão
Olhar o Brasil e não ver o sertão
É como negar o queijo com a faca na mão
Esse gigante em movimento
Movido a tijolo e cimento
Precisa de arroz com feijão
Que tenha comida na mesa
Que agradeça sempre a grandeza
De cada pedaço de pão
Agradeça a Clemente
Que leva a semente
Em seu embornal
Zezé e o penoso balé
De pisar no cacau
Maria que amanhece o dia
Lá no milharal
Joana que ama na cama do canavial
João que carrega
A esperança em seu caminhão
Pra capital
Lembrar do Brasil sem pensar no sertão
É como negar o alicerce de uma construção
Amar o Brasil sem louvar o sertão
É dar o tiro no escuro
Errar no futuro
Da nossa nação.
Esse gigante em movimento
Movido a tijolo e cimento
Precisa de arroz com feijão
Que tenha comida na mesa
Que agradeça sempre a grandeza
De cada pedaço de pão
Agradeça a Tião
Que conduz a boiada do pasto ao brotão
Quitéria que colhe miséria
Quando não chove no chão
Pereira que grita na feira
O valor do pregão
Zé coco, viola, rabeca, folia e canção
Zé coco, viola, rabeca, folia e canção
Amar o Brasil é fazer
Do sertão a capital…
07. A Voz
Vander Lee
Saiam luas, desçam rios
Virem páginas dos pensamentos
Lanço estrelas do meu canto
Sobre as camas dos apartamentos
Virem mares todos os sertões
Que choram pedras aqui
Dentro
Pra esse fogo que queima tão lento
Vento, vento, vento
Aos cantores nos televisores
Flores, flores, flores
Para o povo la em bocaiúva
Chuva, chuva, chuva, chuva,chuva
Bate tambor de crioula
Sangra o dedo no tambor
Que as crianças ainda cantam
Numa orquestra de cavacos
E os velhos ainda choram seus bordões
Que palavras sejam gestos
Gestos sejam pensamentos
Da voz que move nossos corações.
08. Pra ser Levada em Conta
Vander Lee
Vem me ver
Vem juntar seu calor ao meu
Não te quero ter
Só nos finais de semana
Os meus dias
De feira também são seus
Vem viver
Corre pra nossa cabana
Faço de conta que sou levada
Pra ser levada em conta
É pra janela do seu olhar
Que o meu destino aponta
Vem
Põe o moleton
Prova meu baton
Minha companhia
Dobra a calça jeans
Rega meu jardim
Colore meu dia
09. Breu
Vander Lee
Ando procurando pelo seu olhar
Clareou o dia você desapareceu
Na estrada, no vento ou qualquer outra rota estelar
Na ilha deserta ou no inverno do norte europeu
Mergulhando ruas, beijos ao luar
Velejando bocas, loucas pra beijar
Mar e o oceano, e a onda que veio e bateu
Lembra a distância entre o seu mundo e o meu
O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é seu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu
Passo todo dia e noites a vagar
Solto no descaso, preso em seu mirar
Na dança do tempo só você, meu bem, é que não viu
Durmo sabendo que você não vai voltar
O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu
10. Galo e Cruzeiro
Vander Lee
Minha Preta não fala comigo
Desde primeiro de janeiro.
Ela me deu a mala eu fui dormir na sala,
Fiquei sem dinheiro.
Não tem mais feijoada, nem vaca atolada,
Rabada ou tropeiro.
Já fez greve de cama diz que não me ama,
Quebrou meu pandei……ro
Na hora do cruzamento, ela deu impedimento
Ou falta no goleiro
Pra aumentar meu tormento, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Com o gol anulado, saí do gramado, voltei pro chuveiro
Isso tudo porque, meu irmão,
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Caí de centroavante,
Pra médio-volante, agora sou zagueiro,
No último domingo ela foi jogar bingo
E eu fiquei de copeiro
Ela fala, eu me calo, ela canta de galo
Lá no meu terreiro
Ela apita esse jogo, ela é quem bota fogo
No nosso palhei……ro,
Ela finge que não, mas no seu coração
Ainda sou artilheiro,
Só faz isso porque, meu irmão
Eu sou Galo e ela é Cruzeiro
11. Tavimatutú
Vander Lee e Claudia Benítez
Passei o carnaval inteiro
Sem pegar no seu pandeiro
Tavimatutú, tavimatutú
Meu bem não te esquenta com o sumiço
Eu tava atôa por aí, mas eu respeito o compromisso
Que tenho por ti
Meu bem não te esquenta com a demora
Que eu vou e não tenho hora
De chegar nem de sair
Passei o carnaval inteiro
Sem pegar no seu pandeiro
Tavimatutú, tavimatutú
Eu que não sou fi de passarim, de vento nem de avião
Não posso viver assim sem tirar os pés do chão
Deixando escorrer de mim tudo que for emoção
Se eu não posso bater asas que bata meu coracão
12. Tô em Liquidação
Vander Lee
Uma garota Shopping Center
Descendo da limusine,
Em seu vestido tricoline,
Passando pela vitrine
Do meu coração…
E nem me viu…
Uma garota Shopping Center
E seu jeitinho petulante,
Tomando refrigerante,
Na escada rolante,
No meio do saguão…
Falei: psiu!
Meu coração tá de brinde,
Tô em liquidação.
Mas quem nasceu pra lagartixa
Nunca chega a jacaré.
Eu já gastei todas as fichas
Por causa dessa mulher.
Ela não gosta de samba,
Ela não anda a pé.
Ela é bonita pra caramba
E não dá mole “pra ralé”
Meu coração tá de brinde,
Tô em liquidação.
13. No Balanço do Balaio
Vander Lee
No balanço do balaio saculejo, saculejo, saculejo
Aí me dá um sono
Eu pego meu balaio lá pra Zona Norte
Com mais uma hora to chegando lá
É meu único meio de transporte
E com sorte eu consigo até sentar
É gente que entra, é sinal, é sinal
É malandro na porta que se segura
Que sai sem pagar na cara de pau
Moleque na traseira que dependura
Balaio que arranca mas não vai
Diga lá Seu Motô, quer que eu vá à pé
Balaio que balança mas não cai
Não me empurra, não pisa no meu pé
Ah, seria tão bom
Se eu morasse no São Bento, na Savassi
No Anchieta, ou no Sion
14. O Dedo do Tempo no Barro da Vida
Vander Lee
O dedo invisível do tempo
Modelando nosso destino
No barro da vida é um velho
Girando, virando menino
Sonhando sons, criando asas
E as asas pisando o céu
Entrando e saindo das casas
Brincando qual pipa de papel
Driblando dragões e cometas
E contando histórias pra lua
Brincando de roda com os planetas
Bem ali, na porta da rua
E a tarde fugindo sem pressa
Na velha cidade da luz
Presente no sol que atravessa
Futura na estrela que conduz
O dedo invisivel do tempo…